Um pedacinho de momento instantâneo com Henri Bergson...

21. Da Ciência à filosofia:

A ciência moderna exige uma nova metafísica

Memória e Vida - Henri Bergson

Deve-se acrescentar que a grandeza à qual gostaríamos de poder comparar todas as outras é o tempo, e que a ciência moderna deve ser definida sobretudo por sua aspiração a tomar o tempo como variável independente...

... Para os antigos, com efeito, o tempo é teoricamente negligenciável, porque a duração de uma coisa só manifesta a degradação de sua essência: é dessa essência imóvel que a ciência se ocupa. Não sendo a mudança mais que o esforço de uma Forma em direção à sua própria realização, a realização é tudo que importa conhecer. É certo que essa realização nunca é completa: é o que a filosofia antiga exprime dizendo que não perceberemos forma sem matéria. Mas se considerarmos o objeto cambiante num certo momento essencial, no seu apogeu, podemos dizer que ele roça sua forma inteligível. Dessa forma inteligível, ideal e, por assim dizer, limite, nossa ciência se apossa. E a partir do momento em que possui assim a moeda de ouro, possui eminentemente essa moeda de troco que é a mudança. Esta é menos que ser. O Conhecimento que a tomasse por objeto, supondo que ele fosse possível, seria menos que ciência.

Mas, para uma ciência que põe todos os instantes do tempo no mesmo plano, que não admite momento essencial, ponto culminante, apogeu, a mudança não é mais que na diminuição da essência, nem a duração uma diluição da eternidade. O Fluxo do tempo torna-se agora a própria realidade, e o que se estuda são as coisas que escoam. É verdade que da realidade que flui limitamo-nos a tomar instantâneos. Mas, justamente por isso, o conhecimento científico culminava em fazer do tempo uma degradação e da mudança uma diminuição de uma Forma dada desde sempre, se levássemos até o fim a nova concepção, veríamos, ao contrário, no tempo um aumento progressivo do absoluto e na evolução das coisas uma invenção contínua de formas novas.

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